segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não vale tudo na Internet.


“Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Os brasileiros já deveriam conhecer essa lei. Ela e outras equivalentes estão expressas em plaquetas coladas nas paredes de elevadores, teatros, bares e restaurantes. Valem na rua, na praia... e até na internet. Mas, na semana passada, centenas de pessoas parecem ter esquecido que o mundo virtual está suscetível às regras de civilidade da vida lá fora. No domingo, o Twitter, rede social de troca de mensagens curtas com mais de 10 milhões de usuários brasileiros, serviu para uma vergonhosa enxurrada de textos de cidadãos do eixo Sul-Sudeste com manifestações de intolerância contra pessoas de origem nordestina. O estopim: a eleição da candidata do PT, Dilma Rousseff, ao cargo de presidente da República, com o apoio maciço do Nordeste.

Em meio às centenas de mensagens agressivas, a estudante de Direito Mayara Petruso chamou a atenção pelo que publicou no Twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado!”. Foram apenas 71 toques. Ela levou poucos segundos para digitar e apertar “enter”, no conforto seguro de seu computador. Mas deverá arcar com as consequências do ato por muitos anos. A Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) entrou com uma notícia-crime contra Mayara. Ela pode ser acusada de dois crimes, segundo Henrique Mariano, presidente da OAB-PE. O primeiro, de discriminação em meio de comunicação, prevê pena de dois a cinco anos de reclusão e multa, sem direito a fiança. O segundo é de incitação ao ato criminoso (no caso, homicídio), com pena de três a seis meses de cadeia mais uma multa. Na quarta-feira, o escritório de advocacia em que Mayara estagiava soltou uma nota para a imprensa comunicando a demissão da estudante e expressando indignação pela atitude dela. Mayara não respondeu às tentativas de contato da reportagem. Sua situação é complicada. Vários advogados, procurados por ÉPOCA, tiveram dificuldade para elaborar uma linha de defesa.

Mayara não está sozinha. O site Diga Não à Xenofobia! denunciou 110 mensagens de ódio aos nordestinos e apoio a Mayara postadas por outras pessoas. Um grupo de universitários fundou em abril o movimento São Paulo para os Paulistas, que pretende discutir a questão da migração e a suposta subvalorização da cultura do Estado diante da migração de outras regiões do país. O manifesto postado na internet pelo grupo já tem 1.400 assinaturas. Seu texto afirma que os nordestinos aproveitaram as manifestações de ódio para se “fazerem de vítima”. É o que diz a atendente de suporte técnico Fabiana Pereira, de 35 anos, uma das articuladoras do movimento. “Acho que não estão sendo debatidas as causas da revolta dela (Mayara). Não que justifique. Mas o fato é que São Paulo sustenta o Bolsa Família. São Paulo sustenta e eles (nordestinos) decidem quem vai nos governar”, disse ao portal Terra.

   Reprodução
PIVÔ DA CRISE
Frases de raiva no perfil de Mayara na rede Facebook

Parte da explosão de ódio pode ser produto do ambiente onde essas pessoas vivem. Segundo José Roberto Leite, psicoterapeuta da Universidade Federal de São Paulo, os agressores são pessoas condicionadas ao comportamento social de sua família, de amigos e da escola. “É provável que eles tenham esse tipo de conversa com pessoas próximas e achem normal.” Mas a expressão pública da raiva seria algo patológico. “Mostra uma mistura de agressividade incontida com impulsividade inconsequente. Essas pessoas precisam ser responsabilizadas pelo que fazem.” Por causa de manifestações como essas, Janice Ascari, procuradora regional da República em São Paulo, incluiu o nome de Mayara numa lista com dezenas de outros usuários do Twitter que publicaram mensagens preconceituosas. “É um absurdo e incompatível com os preceitos da Constituição”, diz. Eles podem ter a mesma punição que Mayara. Assim como outras pessoas que continuam publicando mensagens de ódio e preconceito contra nordestinos na internet. E nordestinos que, para reagir, publicam frases de ódio regional.

A tentativa de punir a intolerância em massa no Twitter pode marcar uma reviravolta na internet brasileira. Contribui para o fim da ilusão de que você pode publicar o que bem entender, prejudicando outras pessoas, e ficar impune, protegido pelo anonimato ou pela distância do contato virtual. “Punir todos os envolvidos é impossível”, diz Mariano, da OAB. “Mas estamos empenhados em punir alguns com vigor. É uma medida exemplar para educar a sociedade virtual.” Se funcionar, levará a um amadurecimento dos usuários de redes sociais. “A pessoa acha que está protegida, mas é o mesmo que gritar em praça pública”, diz a procuradora Janice. “Não existe impunidade na internet.”

Ódio em 140 caracteres

Mensagens intolerantes postadas no Twitter

“Faça um favor para o nosso país: mate um nordestino”


“Brasil!!! Um país de tolos!!! Parabéns jegues nordestinos!!! Tomarem que morram de fome eternamente, povo folgado que se refugia em sp!!! ”


“Não tenho orgulho do Nordeste. Prefiro sul/sudeste. Lá tem pessoas mais instruídas e inteligentes. Não me identifico com essa burrice local”


“Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171”


“Os miseráveis e ignorantes do Norte/Nordeste, que sempre viveram de esmolas do estado, + uma vez decidem uma eleição. Vcs são escória!! ”


“Danem-se. Continuo odiando qualquer lugar acima de Belo Horizonte. Espero que vocês morram... de fome ainda por cima”


“O #nordeste é um lugar onde nós, pessoas brancas de classe média alta, vamos fazer turismo sexual comendo umas baianinhas vagabundas”


“Gente. O que nois do Sul/Sudeste estamos fazendo no Twitter? Vamos trabalhar para sustentar mais 4 anos de Bolsa família do Norte/Nordeste! ”


“Dividam o Brasil no meio, me nego a ser da mesma nação dos nordestinos”

2 comentários:

  1. Isso é um absurdo por que o Brasil é pais que vive em uma democracia em pleno seculo 21, e por isso as pessoas acham que podem sair falando tudo que vem a sua cabeça.
    Tomara que essa pessoa seja processada e presa, para aprender a não falar besteiras por ai.È uma pena que os outros ainda não foram identificados!!!
    Eu sou da Tribo do Norte, sou forte sou Manaus, sou Amazonas Brasil.

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  2. realmente absurdo, isso é um total desrespeito com os cidadãos do nosso país, pessoas que não tem nada na cabeça e acham que por terem nascido em regiões e famílias privilegiadas podem dizer o que querem, espero que a justiça se fãça valer, para que sirva de exemplo pra outros.

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